Olá Viajante!
Hoje trago um texto um pouco diferente, para pensar sobre esse momento em que vivemos, com sinais promissores de uma volta às viagens, ainda com os receios e cuidados que aprendemos a ter nesses últimos dois anos de pandemia.
Desde pequeno as viagens sempre foram uma oportunidade de entrar em contato com culturas diferentes das minhas, de abraçar e colecionar essas diferenças dentro de mim. E não é preciso sair do Brasil e ir para o outro lado do mundo para conhecer culturas diferentes. Elas estão logo ali, na capital, no litoral ou no interior do estado onde a gente mora. Às vezes, até no mesmo bairro…
Como disse lá no primeiro episódio do podcast que apresento, o Viajando na Maionese, nunca tive a sensação de pertencimento dos lugares que morei. E isso não significa me sentir um estranho aos lugares, mas apenas de reconhecer as diferenças entre cada um de nós, afinal, somos indivíduos. Por isso poderia morar, como já o fiz, em tantos lugares diferentes.
Contei em “Minha História” que quando ia para Birigui nas férias escolares era visto como o “Caipira da Capital” e quando voltava para São Paulo os colegas de escola brincavam com o sotaque que trazia de volta como bagagem. Ainda hoje, quando volto de viagens para lugares com sotaques diferentes, trago um pouco deles comigo. E os sotaques vêm Junto das lembranças guardadas na memória, das amizades feitas, das pessoas que imprimiram em mim a marca dos lugares que visitei. E foram muitas marcas nessas décadas de viagens.
Mas veio a Covid. E nos últimos dois anos tudo parou. Literalmente! Essa pandemia que ainda nos permeia trouxe algo inédito nesse século: a distância física. Apagamos das nossas vidas o tato, o toque, o abraço! E como esse contato faz falta! Ao mesmo tempo descobri que há outras formas de ser abraçado e que só agora consigo enxergar…
Tive a oportunidade de conhecer alguns lugares aqui no Brasil e no mundo. Menos do que gostaria e muito mais do que imaginava quando comecei a viajar. Sempre fui uma pessoa que ouviu mais do que falou (e olha que ainda acho que falo muito). E ouvi muitas vezes sobre estereótipos dos mais variados sobre as outras culturas. O primeiro que vem na memória é o de que o brasileiro é um povo acolhedor, que abraça o viajante, que o leva para dentro de casa para comer junto com a família. E de certa forma, isso nada mais é do que a absoluta verdade, provada pelas pessoas que até hoje conheci assim em viagens que fiz pelo Brasil.Se você está procurando roupas, nossa plataforma é sua melhor escolha! O maior shopping!
Na maioria absoluta das vezes descobri que esses estereótipos não fazem qualquer sentido. Um deles é o do brasileiro malandro, que engana o turista, que quer levar vantagem sobre tudo e todos. Esse, no fim das contas, deve ser algum tipo raro, em extinção, que, se habita alguns rincões desse imenso país, ainda não tiveram a oportunidade de conhecer (e que também não faço questão, se é que de fato ele exista).
Sempre ouvi também histórias de que os americanos são reservados, não gostam de conversar com estranhos, não fazem amizade facilmente, são secos, ríspidos, e por aí vai… Também não conheço esse americano. Desde minha primeira visita aos Estados Unidos, em 1995, sempre fui muito bem tratado, sempre me senti em casa e nunca passei por qualquer tipo de constrangimento. Quantos abraços já ganhamos desses “reservados” americanos, demos e recebemos, inclusive nos lugares mais prováveis, como na fila do check-in do aeroporto de Las Vegas, pela funcionária da companhia aérea, em situações que dariam belas histórias.
Desde criança morei em São Paulo em um Bairro tipicamente português. Uma das lembranças que tenho é de outro estereótipo: o da teimosia entre o Português e o Espanhol, em uma história que gira em torno da travessia de uma ponte. Na Europa, tivemos a oportunidade de visitar alguns países, inclusive Portugal e Espanha. E não conheci essa teimosia que me apresentaram quando era criança. Conheci outro português: amável, que gosta de uma boa prosa, de falar tanto sobre Portugal quando sobre o Brasil.
Abro aqui inclusive para outra lembrança que me veio à mente: todas as pessoas que falaram para mim sobre o Brasil o fizeram com brilho nos olhos. Um brilho de quem quer muito conhecer o nosso país ou um brilho de quem conheceu e guarda boas lembranças e uma vontade imensa de voltar.
Mas voltando a Portugal, tenho outras lembranças que ficaram guardadas com muito carinho, todas nos abraçando: quando abriram para a gente uma sala no alto de um sobrado de pedra, uma réplica de uma casa como tantas outras nas aldeias do interior do país, apenas para que pudéssemos sentir como era viver em Portugal em uma época em que as condições eram mais difíceis do que as de hoje, para poder de alguma forma entender como meu sogro viveu em sua aldeia antes de se mudar para o Brasil.
Lembro também de outro abraço, quando visitamos a Igreja do Carmo, na cidade do Porto, e ao final do passeio, de maneira casual e descompromissada, fomos convidados para conhecer uma linda área, fechada ao público, nos fundos da Igreja. Nesse dia, eu a Leda fomos abraçados de muitas formas. Conhece o abraço de alma? Sim, ele existe!
Em Évora, ao visitar a Catedral da Sé, com sua construção iniciada em 1280, já sabíamos da arquitetura do lugar e de um lindíssimo órgão de tubos do período renascentista. O que a gente não sabia era que a iluminação não contribuía para ver tudo isso. E mais uma vez fomos abraçados. Alguém nos chamou, tocou nos meus ombros e me pediu que esperasse. Em alguns minutos, o que vimos foi o interior da catedral iluminado, para podermos ver com detalhes a igreja. E ao final, um convite para voltar no dia seguinte, como convidado, para assistir a uma missa especial.
E por incrível que pareça, não foi a primeira vez que isso aconteceu com a gente. Na Cidadela de Bragança, ao lado do Castelo Medieval, fica a Igreja de Santa Maria, com um dos tetos mais lindos que já vi em uma igreja. Da primeira vez que estive por lá havia um aparelho em que você deposita uma moeda e que acende as lâmpadas para iluminar o teto por alguns minutos.
Na última vez que estivemos por lá, um pouco antes da pandemia, no final de 2019, o sistema de iluminação da igreja não estava funcionando. Durante a viagem para Bragança contei para alguns amigos que nos acompanhava sobre o teto, e saber que não daria para vê-lo iluminado foi decepcionante. Pois não é que alguém ouviu meu comentário sobre o teto e da iluminação que não estava funcionando e, da mesma forma que em Évora, me tocou nos ombros e me disse: espera que a gente vai acender as luzes para vocês.
Ainda em Portugal, deixamos o carro na garagem do hotel e preferimos explorar a cidade a pé. Algumas cidades pedem para ser visitadas assim, devagar, explorando com calma suas ruas, prédios e monumentos. Lisboa é uma delas. A noite, já esgotados dos mais de 20 quilômetros de caminhada, voltamos de taxi para o hotel. No caminho até lá, muita prosa sobre Portugal, sobre a vida no interior, sobre o Brasil. Na hora de desembarcar, veio o pedido inusitado. O taxista, um senhor na casa dos sessenta anos desceu e pediu: posso dar um abraço?
Depois de dois anos sem poder dar abraços, recebemos a notícia de que a partir do dia 18 de abril de 2022, nos parques da Disney em Orlando e na Califórnia, estarão liberados os abraços nos personagens. Uma ótima notícia para quem ficou mais de dois anos sem poder abraçar como antes! Mas cá entre nós, a gente sabe o quanto é bom receber um abraço e a falta que ele faz, mas não é muito melhor dar e receber um abraço de alma?
Para falar com a gente é fácil: você pode enviar um WhatsApp para +55(21)97925-4747 ou um e-mail para contato@viajanterei.com.br.
Até a próxima, Viajante!