Livraria Lello

Desde que voltei de Portugal estou ansioso para escrever sobre a visita à Livraria Lello*. É sobre essa livraria icônica que falaremos neste artigo. Queremos que você não só conheça essa livraria, que está entre as mais famosas do mundo, como também esperamos de coração que esse texto seja contagiante e desperte em você o desejo de conhecer cada cantinho dessa cidade tão especial que é o Porto…

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Presente em todas as listas das principais livrarias, me arrisco a dizer que a Lello é a mais famosa e conhecida do mundo. Ali as filas são constantes para que o visitante finalmente a conheça por dentro. A principal explicação para tanto sucesso é o personagem de uma ficção: Harry Potter…

Mas qual o motivo desse público jovem, leitor dos livros sobre Harry Potter ser o maior responsável pela manutenção da Livraria Lello como polo gerador de cultura na cidade do Porto? Mesmo que você já saiba o motivo, que tem a ver com o conteúdo dessa estante da foto, não podemos deixar de repeti-lo aqui.

Estante na Livraria Lello, decida aos livros de J. K. Rowling.

A escritora da série Harry Potter, J. K. Rowling, viveu na cidade do Porto de 1991 a 1993. Seus biógrafos afirmam que ela escreveu parte de Harry Potter neste período e que sua temporada no Porto a inspirou em muitos pontos de seus livros, como por exemplo as roupas dos alunos de Hogwarts e… a Floreio & Borrões, inspirada na Livraria Lello.

O que deixa uma aura ainda mais especial no lugar é que Rowling falou pouco sobre sua vida no Porto e as inspirações para o filme. Não há entrevistador que tenha se atrevido a perguntar sobre isso e talvez seja melhor que assim permaneça, mantendo a magia do lugar.

Então, seja por qual motivo for, por ser um fã de Harry Potter, alguém que goste de arquitetura, um devorador de livros ou simplesmente um turista curioso, uma visita à Livraria Lello é obrigatória quando no Porto.

Fachada neogótica da icônica livraria.

Achar a Livraria Lello é muito fácil. Primeiro, pela localização: está pertinho de pontos turísticos como a Torre dos Clérigos, a Universidade do Porto, a Igreja do Carmo e em frente à Praça Lisboa. Segundo, pela arquitetura do prédio, inaugurado em 1906, que é única e combina três estilos: Neogótico, Art Nouveau e Art Déco. Se mesmo assim não conseguir encontrar o prédio você tem uma terceira chance para chegar lá: a aglomeração de pessoas. Na frente da livraria as filas são constantes, em qualquer dia, em qualquer horário.

Para conhecer a livraria com um pouco mais de tranquilidade a nossa dica é: chegue cedo e programe a visita logo para o primeiro horário. Para visitar a livraria é necessária a compra de um voucher, no valor de €5, que é revertido em desconto na compra de um livro. A compra do voucher pode ser feita no site da Livraria Lello.

E o que faz um trilho numa livraria? Por esses trilhos um carrinho carregava livros por todo o espaço da loja… O carrinho, totalmente funcional, está lá para ser visto, nos trilhos da parte do fundo da loja.

Nossa visita à Lello começou bem cedo. Fomos convidados a conhecer a livraria antes da abertura ao público, uma oportunidade para mostrar para vocês o espaço ainda sem a multidão de visitantes que lotam seus corredores diariamente.

Toda a livraria deve ser observada em detalhes, sua fachada, suas estantes, os bustos expostos, seu teto e vitrais (há também detalhes ocultos, que contaremos depois). O que chama a atenção de imediato, sem precisar buscar com os olhos, é sua escada…

Escadaria da Livraria Lello construída em concreto armado., uma inovação para a época.

Construída em concreto armado, a escada da livraria era uma novidade da época de sua construção, pois o uso de concreto era pouco utilizado. Obra do engenheiro Francisco Xavier Esteves, que além do estilo arquitetônico único do prédio, de sua imponente escada e de um monumental vitral, com oito metros de comprimento e três e meio de largura, deixou também detalhes menos perceptíveis, como os adornos da escada e do teto que imitam madeira, mas que na verdade são de gesso.

Adorno do teto da livaria, em gesso que imita madeira.

Para se ter uma ideia dos números, as visitas em 2016 superaram um milhão de pessoas, o que dá uma média de mais de 2.700 pessoas por dia! O clima na livraria, mesmo quando lotada, é bem tranquilo. Música clássica em um volume acolhedor preenche o ambiente através de um sistema de som.

Detalhe de uma das estantes , com bustos de diversos autores entre os livros.

A Livraria Lello iniciou suas atividades em 1906 como “livraria editora”, ou seja, editava, imprimia e vendia livros. Durante muitos anos publicou grandes autores portugueses, como Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco, inclusive com direitos exclusivos de alguns desses autores.

“O vitral é o que parece, uma estrutura em vidro com 8 metros de comprimento e 3,5 metros de largura. A insígnia “Decus in labore” (dignidade no trabalho) enlaçada no monograma dos irmãos Lello, lembra a regra de ouro que se aplica a todos os que entram nesta casa, sejam colaboradores, clientes, leitores ou apenas curiosos.” Fonte: http://bit.ly/LelloRei

Há diversas curiosidades que envolvem a Livraria Lello. Algumas são bem sutis e passam facilmente despercebidas aos visitantes. Outras são bem visíveis e até óbvias. Vamos conhecer algumas delas?

Com uma fachada tão cheia de detalhes, talvez o visitante não se dê conta da inscrição no vidro, logo acima da porta de entrada da Lello: “Livraria Chardron”.

Detalhe do vidro da fachada da Livraria Lello.

E o que tem a Livraria Chardron a ver com a Lello? O prédio atual é da época de sua inauguração: 1906. Mas em 1869 já funcionava no local uma editora, chamada Livraria Chardron, nome esse de seu dono e fundador.

Antes de ser dono da sua própria livraria, Chardron trabalhava como vendedor para a Livraria Moré: era cacheiro viajante. Em 1869, por força do destino, fundou a Livraria Chardron.

Detalhe da Livraria Lello depois que é aberta diariamente ao público: lotada de jovens visitantes.

Chardron não era um homem rico, como dissemos, era apenas um cacheiro viajante que vendia livros. Mas Chardron também adorava jogos de loteria. E um dia tirou a sorte grande: ganhou o grande prêmio! Aí é que começa a história da Livraria Chardron, que foi criada em 1869 com parte do dinheiro do prêmio.

Após a sua morte precoce em 1885, com apenas 45 anos de idade, 16 anos depois de fundar a livraria, a editora passou pelas mãos de alguns donos antes de chegar finalmente aos irmãos Lello, em 1906.

O que foi descoberto em uma recente reforma é uma preciosidade! Não se sabe quando, e nem porque, bilhetes de loteria foram colados sob as estantes da Lello. Especula-se que tenham chegado lá pelas mãos de funcionários ou de clientes assíduos. Se tiver a curiosidade de ver esses bilhetes – como eu tive – basta procurar entre as prateleiras no térreo, no lado esquerdo, ao fundo da loja.

Detalhe dos bilhetes de loteria, colados sob os balcões da Livraria Lello, descobertos em uma recente reforma,

Não é surreal essa ligação do lugar com os bilhetes de loteria? Apesar de Ernest Chardron ter falecido anos antes de se imaginar que haveria ali a Livraria Lello, as duas histórias permanecem unidas: por bilhetes de loteria! E hoje sabemos disso por acaso… Quais serão os outros segredos que o lugar ainda guarda?

Detalhe da escada da Livraria Lello

Declínio e Renascimento

No final do século XX a livraria passou por um período de declínio, que afetou todo o mercado editorial na época. A livraria passou a ter foco na venda de livros de grandes editores. A Lello então, por uma mistura de “força do destino” e do “trabalho árduo” para encontrar uma maneira de resgatar o espírito da leitura e atrair clientes, a Lello conseguiu se renovar e se tornar exemplo de como uma pequena livraria pode sobreviver.

Com a redescoberta da Livraria junto ao grande público, a Lello pode voltar a investir na edição de títulos, como a obra “O Pequeno Príncipe”, de Antoine de Saint-Exupéry. Em domínio publico desde 2015, o que se torna um incentivo para redução no custo da edição, “O Principezinho” está a venda na Lello em língua francesa, inglês e português (de Portugal).

Busto em baixo relevo de Antonio Lello, fundador da Livraria Lello.

Inaugurada em 13 de janeiro de 1906, a Livraria Lello tinha uma missão: ser uma livraria modelo e um “Templo às Artes”. Seja com a venda de vouchers para disciplinar as visitas às suas dependências (ou simplesmente para ganhar dinheiro, afinal, sem receita nenhum negócio sobrevive), seja com a ajuda do nome Harry Potter e de seus fãs, ou apenas através de fiéis (ou novos) clientes em busca de um livro ou de uma recordação da cidade do Porto, passado mais de um século, essa missão ainda é cumprida!

Gostou? Ficou animado para viajar? Fale com a gente. Teremos o maior prazer em ajudar a planejar a viagem perfeita para você!

*O Viajante Rei fez a visita a convite da Livraria Lello.

Este post tem 3 comentários

  1. Sara Pierce

    Adorei as informações disponibilizadas, super informativas, esclarecendo questões que não havia encontrado em nenhum outro site antes, dentre muitos em que visitei nos últimos dias a cerca da livraria, como exemplo do modo construtivo que foi utilizado na escada. Muito bom mesmo!
    Gostaria de perguntar apenas se por acaso vocês teriam a informação para me passar de qual foi o modo construtivo utilizado na construção da livraria como um todo… ? Sou estudante de arquitetura e tenho interesse em saber. Se souberem e puderem me informar agradeço muito. Grande abraço.

    1. Viajante Rei

      Olá Sara,

      Obrigado pelos elogios.

      Espero que o texto tenha ajudado você de alguma forma. Não tenho informação sobre a construção do prédio em si. Minha sugestão é que faça contato direto com a livraria, pelo endereço https://www.livrarialello.pt/pt-pt/contact-us.
      Mais uma vez, obrigado!

      Abraços,

      Lincoln

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